quarta-feira, 11 de março de 2020
domingo, 14 de março de 2010
MAIS DO QUE UM POVO SOFREDOR
Povo escravizado,portador de uma longa história e de uma riquíssima cultura, por todos reconhecido como uma população cruelmente discriminada, que de há 188 anos a esta parte,mais do que nunca ,continua a ser progressivamente despojada das terras recebidas dos seus ancestrais,sistematicamente perseguida,martirizada e chacinada com a maior desfaçatez e absoluta impunidade, por grupos de "habitadores" a quem,com alguma relutância,também chamamos brasileiros.É uma relutância que sinto não ser descabida se tivermos em conta que ao longo de muitos milénios foram aqueles e não estes os detentores daquelas.Ainda hoje (os que têm conseguido sobreviver à barbárie),resistindo a sucessivas tentativas de aculturação, ali vão conseguindo manter as suas tradicionais formas de relacionamento social e as saudáveis relações com a terra que fruem,bem como com o resto da natureza que os envolve.
Mas,não perdendo a linha de pensamento, direi que a presença maciça da população índia na formação do povo brasileiro,foi sempre preconceituosamente desprezada pelos seus compatriotas Mazombos (indivíduos descendentes de europeus nascidos no Brasil - que nada têm de sangue português) e não só, que sempre os consideraram seres inferiores.
Hoje,pesando o facto de ser tardio, o quadro começa a mudar.
A verdade genética mostra-nos curiosas realidades.Pesquisas recentemente levadas a cabo por equipas do Departamento de Bioquímica e Imunologia e Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Minas Gerais,revelaram que enquanto a maioria das linhagens paternas dos brasileiros é europeia, fundamentalmente portuguesa,cerca de 60% das linhagens maternas do povo brasileiro é ameríndia ou africana.Verdades que muitos persistem em escamotear e que a todos mostram a importante presença índia na formação da actual população brasileira.
Na verdade são os Índios e seus derivados, os portadores de uma verdadeira identidade histórica,que permitem chamar a si próprios o direito ao legitimismo brasileiro e não a quaisquer outros grupos de indivíduos que há muito por ali existem,mas que na opinião dos primeiros, não passam de meros ocupantes dos seus territórios.
Tal como o mundo acabou por entender que África é dos negros ( e seus derivados), também aqui urge que o mundo entenda que as terras brasílicas são dos índios ( e seus derivados) para assim se pôr termo ao genocídio de que está a ser vítima aquele povo.Todos percebemos que são eles os verdadeiros,com cultura própria e profundamente enraizados naquelas riquíssimas terras onde uma significativa parte, no dia a dia,assume práticas tradicionais das suas mais remotas ascendências,cuja relação com o mundo passa pelo profundo respeito pela terra que trabalham e fruem com critérios protecionistas;dela se sentindo parte integrante,ao ponto de nenhum humano se considerar acima da criação mas antes parte dela,com a obrigação de forjar relações de respeito e equilibrio com o mundo envolvente.
Mas a realidade actual da nação brasileira afirma-se com outro tipo de grupos populacionais,com maior peso numérico, e não só, em relação àqueles.São pessoas que na sua maioria e em todas as áreas, passou a ter o mando no Brasil,mas que há mais de 180 anos pouco ou nada têm conseguido fazer em prol do bem estar do "verdadeiro povo" esse que, com sangue e muito suor,na absoluta pobreza ali vive e com ordenados de miséria trabalha nesta riquíssima terra ameríndia.Uma preciosidade que em 7 de Setembro de 1822,um frouxo príncipe português colocou,de mão beijada, na posse de um grupo de incapazes, que de geração em geração se veem notabilizando pelas suas incompetências governativas.
Como corolário do atrás referido,assistimos hoje à deprimente realidade de um povo oriundo de um dos países mais ricos do mundo ,que para fugir à fome sofrida na sua terra e passar a viver com alguma dignidade, emigra para vir realizar-se no país mais pobre da Europa:- Portugal.
Colocada esta pequena nota de actualidade ,direi que por mais que ainda hoje custe a alguns (muitos) brasileiros, é importante perceberem que a "Pátria Brasileira" começou a ser construída muito antes de 1822 e segundo uma modelar estratégia,arquitectada pelos portugueses assente em princípios de unidade territorial,unidade linguística (com a utilização do português como língua materna) e com a homogeneidade cultural Lusitana implementada com o processo de colonização iniciado em 1500.
Naturalmente que aos brasileiros atrás referidos,que inventam "piada de portuga",que gozam com "o sô Manoel-padeiro ",que dizem ter sido preferível um Brasil colonizado por espanhóis,holandeses ou Ingleses do que por portugueses, a esses importa recordar que não fosse a forma muito própria como os portugueses,logo nos primeiros contactos,se relacionaram com as populações indígenas;o Brasil nunca teria (com excepção de tudo o que tem resultado das más governações iniciadas em 1822), a grandeza que hoje tem.
No tocante às colonizações espanhola,holandesa e inglesa,pensemos um pouco o que foi a acção colonizadora espanhola na América e nos países que dela resultaram.
Se quisermos ir mais além,recordemos a realidade colonizadora holandesa e inglesa na África do Sul onde, na colónia do Cabo, os holandeses "boers" destruíram os bosquimanes e massacraram os negros com inimagináveis requintes de malvadez,após o que foram vencidos pelos ingleses que por sua vez, passaram a dominar a África do Sul seguindo a mesma linha de massacre dos negros,acabando por ali instituir o terrível "aparted".Mas também não devemos esquecer a Indonésia, as crueldades ali praticadas.Seria bom reflectir o que foram e o que causaram as sangrentas guerras de Sumatra (1838-1873-1909),de Bali (1906-1908) e o tipo de escravização dos indígenas que a elas sobreviveram ,e a que ficou ligado o cruel nome "Van den Bosch".
Este tipo de colonizadores por onde passaram não faziam mestiçagem .Por isso mesmo não
temos dúvida de que se a colonização do Brasil tivesse sido feita por eles, a maioria dos brasileiros de hoje, não existiria .Seus avós não teríam conseguido resistir às habituais perseguições racista inglesas.
sexta-feira, 5 de março de 2010
O PARADIGMA
Toda esta construção a que hoje chamamos Brasil,foi e é absolutamente paradigmática se comparada com as restantes ocorridas na América Latina ou nalguns países de África.
No essencial, toda ela assentou numa primeire fase,na usurpação de territórios pertencentes a grupos tribais ameríndios e também no célebre roubo feito pelos portugueses aos espanhóis com a anexação de regiões que,segundo o tratado de Tordesilhas (1494),pertenciam por direito à América Espanhola, e numa segunda fase,a nosso ver a mais importante,com um processo de miscigenação que os portugueses,com as suas características próprias,aqui levaram a cabo.
Portugueses e ìndias agrupados com população negra para ali deslocada,todos interagindo, criaram uma humana preciosidade que hoje presenteia todo o mundo com a mais bela mestiçagem do planeta.
Retomando o "desvio feito" pelos portugueses aos amigos espanhóis,importa recordar que foram cinco milhões de quilómetros quadrados que serviram para aumentar o território que então era o Brasil.
Uma vastíssima área que os portugueses acabaram por demarcar e que passaram a manter como sua .
Uma soberania com a área de 8.514.876,599 Km2,(hoje a quinta maior do mundo) correspondente a 47% da América do Sul,actualmente detentora de entre 15 a 20% da biodiversidade mundial, com uma dominadora riqueza florestal amazónica,de 3,6 milhões de quilómetros quadrados.
Naturalmente que toda esta imensa realidade geográfica para ser,como foi, criada e defendida, obrigou os portugueses a terem de se confrontar com várias frentes bélicas, de onde acabaram por sair vencedores.
De início,com populações autóctones e em fases subsequentes com países invasores europeus como os Holanda ,que na segunda década do século XVII,com um exército de 1700 homens ousaram invadir a Baía ,uma invasão que os portugueses com prontidão e total eficácia neutralizaram ,tendo sido totalmente dizimado o exército invasor.
No essencial, toda ela assentou numa primeire fase,na usurpação de territórios pertencentes a grupos tribais ameríndios e também no célebre roubo feito pelos portugueses aos espanhóis com a anexação de regiões que,segundo o tratado de Tordesilhas (1494),pertenciam por direito à América Espanhola, e numa segunda fase,a nosso ver a mais importante,com um processo de miscigenação que os portugueses,com as suas características próprias,aqui levaram a cabo.
Portugueses e ìndias agrupados com população negra para ali deslocada,todos interagindo, criaram uma humana preciosidade que hoje presenteia todo o mundo com a mais bela mestiçagem do planeta.
Retomando o "desvio feito" pelos portugueses aos amigos espanhóis,importa recordar que foram cinco milhões de quilómetros quadrados que serviram para aumentar o território que então era o Brasil.
Uma vastíssima área que os portugueses acabaram por demarcar e que passaram a manter como sua .
Uma soberania com a área de 8.514.876,599 Km2,(hoje a quinta maior do mundo) correspondente a 47% da América do Sul,actualmente detentora de entre 15 a 20% da biodiversidade mundial, com uma dominadora riqueza florestal amazónica,de 3,6 milhões de quilómetros quadrados.
Naturalmente que toda esta imensa realidade geográfica para ser,como foi, criada e defendida, obrigou os portugueses a terem de se confrontar com várias frentes bélicas, de onde acabaram por sair vencedores.
De início,com populações autóctones e em fases subsequentes com países invasores europeus como os Holanda ,que na segunda década do século XVII,com um exército de 1700 homens ousaram invadir a Baía ,uma invasão que os portugueses com prontidão e total eficácia neutralizaram ,tendo sido totalmente dizimado o exército invasor.
UMA ESTRATÉGIA COLONIZADORA
Estamos a falar de uma dimensão continental ,formada por vinte e sete estados, de falantes de língua portuguesa, não decorrente de quaisquer dinâmicas anteriores a 1500 mas tão somente de uma estratégia forma de colonização típicamente Lusitana,ali iniciada pelos homens de Cabral,no litoral brasílico, e continuada com progressivas penetrações e subsquentes ocupações de zonas sertanejas,tudo sustentado por fecundas relações miscigenatórias com os povos aborígenes.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
O BRASILETE
Há mais ou menos 8 anos, foi-me dada a possibilidade de ouvir no Estado do Matogrosso do Sul , Região Centro-Oeste,Marcos Veron,líder do povo Guarani /Kaiowa,( soube mais tarde que em Janeiro do ano seguinte,viria a ser bárbaramente assassinado por jagunços, apoiados pela autoridade policial ,no decorrer de um covarde ataque noturno à aldeia de Taquara-município de Jutí).Fiquei absolutamente chocado com o que ouvi ,sobre a realidade da vida do seu povo,nomeadamente as vicissitudes porque passam na luta pelos seus direitos, nomeadamente a defesa da cultura índia, a manutenção das terras que sempre lhes pertenceram,o respeito pelas suas formas de ver a vida e o mundo que os rodeia.Foram chocantes relatos sobre as constantes disputas de terras com fazendeiros, os dramáticos confinamentos de tribos em pequenas reservas, com o consequente aumento de violência policial recaída sobre o seu povo.Referiu-me serem constantes as ameaças de morte,frequentes os assassinatos,as torturas,os espancamentos,os esquartejamentos e as violações de mulheres e crianças.
Sentimos a sua incompreensão sobre a razão deste permanente cruel processo de extremínio, impunemente cometido sobre todos eles,debaixo das vistas e com as inerentes cumplicidades da sociedade nacional,dos governos,das instituições da Républica .
(Hoje vivem no Brasil somente 734 mil índios,de 215 etnias - 0,4% do total da povoação brasileira- sendo certo que cerca de um terço dos índios vive na Região Norte do Brasil,na floresta amazónica).
Entretanto a conversa ia fluindo serenamente e "brasilete" era um vocábulo que de quando em vez,pelo Marcos Veron, ia sendo utilizado a meu ver, como forma de adjectivar algo ou alguém,mas tanto quanto entendíamos, com intenção perjurativa. Todos sabemos que Brasilete é nome de uma espécie arbória brasileira,mais concretamente uma grosseira variedade do pau-brasil,mas tenho de confessar que utilizada naquele outro contexto me confundia um pouco. Apercebendo-se do meu apuro,Veron, de imediato e com alguma graça, aprontou-se a esclarecer-me que "Brasilete",era um dos múltiplos nomes com que ele adjectivava o "branco mau". Esse que ,segundo o mesmo: " vai para 200 anos que nos vem ocupando o Brasil,nos tira as nossas terras e comete genocídio contra o meu povo".
É aqui, frequente, inventarem-se adjectivações depreciativas aos que, em maioria numerica e melhor armados mais não têm feito que massacrá-los e, progressivamente, extreminá-los.
(Hoje vivem no Brasil somente 734 mil índios,de 215 etnias - 0,4% do total da povoação brasileira- sendo certo que cerca de um terço dos índios vive na Região Norte do Brasil,na floresta amazónica).
Entretanto a conversa ia fluindo serenamente e "brasilete" era um vocábulo que de quando em vez,pelo Marcos Veron, ia sendo utilizado a meu ver, como forma de adjectivar algo ou alguém,mas tanto quanto entendíamos, com intenção perjurativa. Todos sabemos que Brasilete é nome de uma espécie arbória brasileira,mais concretamente uma grosseira variedade do pau-brasil,mas tenho de confessar que utilizada naquele outro contexto me confundia um pouco. Apercebendo-se do meu apuro,Veron, de imediato e com alguma graça, aprontou-se a esclarecer-me que "Brasilete",era um dos múltiplos nomes com que ele adjectivava o "branco mau". Esse que ,segundo o mesmo: " vai para 200 anos que nos vem ocupando o Brasil,nos tira as nossas terras e comete genocídio contra o meu povo".
É aqui, frequente, inventarem-se adjectivações depreciativas aos que, em maioria numerica e melhor armados mais não têm feito que massacrá-los e, progressivamente, extreminá-los.
São expressões de uma revolta igualmente dirigida ao Estado brasileiro,que actua a partir de uma política indigenista concebida para integrar os índios na comunhão nacional e,portanto,tratando-os como categoria em transição rumo à extinção.Lamentávelmente ,uma vez conseguido este aniquilamento,ficam removidos os últimos obstáculos para a destruição total do meio ambiente e,impunemente,se exterminam culturas milenares com tudo o que elas representam em termos de sabedoria,diversidade e pluriculturalidade.É que,ainda hoje no Brasil,os povos indígenas,com suas concepções de vida,formam ecossistemas nos quais os seres (humanos e não humanos) se reproduzem em interacção.São povos portadores de uma modelar sensibilidade que os leva a uma forma muito própria de ver e sentir o mundo que os rodeia.São pessoas para quem a terra é a natureza,a floresta,a fonte de matérias-primas,a água,enfim,o espaço a ser domesticado,manejado.A natureza é um conjunto integrado de entes que possuem vida,alma,espíritos que requerem cuidados,que se relacionam para o bem ou para o mal,um conjunto no qual os seres humanos estão incluídos.
Recordo o desabafo que ouvi do ancião Feliciano Soares para o jovem Adão Benites da comunidade Ñanderu Marangatu na aldeia Campestre,do município de Antônio João - MS.
Na língua Guarani existe uma palavra ñemoyrõ (em Kaiowá ñemyrõ),quer dizer tristeza,pranto,angústia,sentimento profundo que não vai passar,paixão,mágoa.É uma palavra usada para designar aquela dor de amor que não é correspondido.Essa palavra foi a expressão do ancião da aldeia Ñnhanderu Marangatu ao referir-se à terra que foi tomada e violentamente reintegrada à posse dos fazendeiros.Ñemoyrõ é o sentimento de dor em relação ao sonho de viver em paz no tekoha,é o sentimento de amor pela terra que foi,por diversas vezes, violentamente expropriada,é a dor de um amor partido,um sentimento forte,lá dentro do peito,que parece não ir passar nunca.Estas foram as expressões que o velho ancião utilizou ao falar de seus sentimentos.
Para o então líder do povo Guarani-Kaiowá Marcos Veron,são esses milhões de ocupantes brancos,que se mostram ao mundo como sendo "os verdadeiros brasileiros",todos ou quase todos a dizerem-se descendentes de alemão,italiano,francês mas sempre,(de forma implícita),dando a entender,mesmo que a verdade não seja essa, não descenderem de português ( "O portuga"), que há 188 anos vêm colonizando este imensamente rico subcontinente índio,esta notával construção Lusitana,iniciada em 1500 por Cabral,optimizada no sec.XIX pela Corte Portuguesa, que aqui solidificou a trave mestra de um imenso país,maioritáriamente intertropical e que,ignorando o povo índio, colocou em mãos de "Brasiletes"que, em todos estes anos, mais não têm conseguido do que mostral a sua total incapacidade de governar capazmente este riquíssimo país e de valorizar o nosso povo índio.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
OS BRASILEIROS
Meus caros amigos, o blogue está criado.
É mais um espaço para falar de um país, que no campo dos afectos e não só, muito diz a Portugal.
É uma tribuna,para todos os que nela desejem apresentar e defender os seus pontos de vista sobre o Brasil e o seu povo.
Assim, abrimos este blogue dando como mote,a graça de Chico Anysio,um dos mais criativos e importantes humoristas brasileiros.A uma pergunta que lhe foi colocada sobre se na verdade o seu país seria o país da piada, disse após alguns momentos de reflexão e com ar muito terno:
-o Brasil não é o país da piada, é uma piada como país.
LM
É mais um espaço para falar de um país, que no campo dos afectos e não só, muito diz a Portugal.
É uma tribuna,para todos os que nela desejem apresentar e defender os seus pontos de vista sobre o Brasil e o seu povo.
Assim, abrimos este blogue dando como mote,a graça de Chico Anysio,um dos mais criativos e importantes humoristas brasileiros.A uma pergunta que lhe foi colocada sobre se na verdade o seu país seria o país da piada, disse após alguns momentos de reflexão e com ar muito terno:
-o Brasil não é o país da piada, é uma piada como país.
LM
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